sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Big-bang


Quando o céu estilhaçou-se, eles deram as mãos.

O som do fim do Mundo era ensurdecedor e estranho, como se o tempo cantasse.

Puderam ver, ao longe, quando uma estrela despencou e decapitou uma montanha.

As pessoas à volta deles tinham reações às vezes inesperadas, às vezes óbvias. Choravam, rezavam, se abraçavam, se matavam, ocasionalmente até pediam perdão umas às outras.

Pela janela eles viram as rachaduras no céu e dentro delas, para aqueles que ousavam olhar, o Tudo e o Nada se misturavam numa noite sem luar.

A chuva começou, morna e dourada, como se fosse o sangue das estrelas. Eles abracaram-se com mais força. Lembraram-se do piquenique ainda naquela manhã, do sorvete que dividiram na noite anterior, do conforto de dormirem abraçados, das longas conversas. Viram quando um pedaço do firmamento despencou e fincou-se no centro da cidade como um punhal com constelações entalhadas em sua lâmina.

Ela foi forte e não chorou. Ele não foi e chorou quando ela disse-lhe um adeus sem palavras com um beijo.Foram para a rua.

A realidade evaporava ao redor do casal. Prédios escorriam para as brechas do céu, o oceano partiu em silêncio, pessoas evaporavam em nuvens que lembravam pequenas galáxias.

Então o fim os abraçou. Subitamente todas as coisas pareceram pequenas, todas as lembranças eram imensas. Permaneceram abraçados até eles próprios tornarem-se pequenas nebulosas gêmeas.

O silêncio triunfou.

Choveu. Choveu até a a superfície da realidade tornar-se apenas oceano. 

E o espírito de Deus pairava sobre as águas.